Diz o Povo que se nascerem sete filhas a última há-de ser pieira. Vai viver para as montanhas, será pastora de lobos que a amam e respeitam.
Conta a lenda que o primeiro dono da Torre, Afonso Ancemondes, o mais destemido de todos os cavaleiros minhotos, era muito bonito e deixava todas as donzelas encantadas.

 

 

Certo dia, na caça aos ursos na Serra da Labruja, quando se preparava deixar a montanha avistou um lobo, fez pontaria e atingiu-o com uma seta entre os olhos.
Este, ferido, fugiu velozmente e desapareceu entre dois penedos. Durante a perseguição, não conseguindo parar a tempo, foi contra as rochas, ficou sem sentidos e caíu.

Quando voltou a si, encontrava-se numa gruta decorada com troncos de árvores e uma pequena fogueira que aquecia dois velhos lobos. À sua beira uma donzela, coberta com peles de corça, acariciava o focinho do lobo ferido. Esta, acreditando que estava perante a sua alma gémea que vinha salvá-la do seu triste fado que durava há sete anos, perguntou-lhe se era ele o seu libertador.
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Inundado por sentimentos de maldade, desconfiou tratar-se de uma armadilha de uma pieira ambiciosa para iludir o coração de um nobre propenso ao maravilhoso. Chamou-lhe impostora e disse-lhe que ela também falaria assim se, em vez dele, ali estivesse um dos seus lacaios.

De repente uma estranha beleza inundou o rosto da jovem num misto de anjo e demónio, de rainha e de selvagem, deixando Ancemondes admiradíssimo. Então, ela explicou que não lhe diria quem era e que o seu fado só seria quebrado pelo amor de um fiel cavaleiro. Ancemondes, vendo que tinha virado as costas à felicidade que até então nenhum mortal tinha sequer sonhado, pediu perdão de joelhos.

 

O que se passou a seguir não se sabe.
Diz-se que Ancemondes desapareceu, após ter doado tudo aos frades. Desencontrada da sua alma par e preza ao seu amor, a alma penada do fidalgo todos os anos durante sete noites sai em penitência em direcção às montanhas, talvez durante mil anos, ou ainda outros mil e outros...