Diz o Povo que se nascerem sete filhas a última há-de ser
pieira. Vai viver para as montanhas, será pastora de lobos que
a amam e respeitam.
|
Certo dia, na caça aos ursos na Serra da Labruja, quando se preparava
deixar a montanha avistou um lobo, fez pontaria e atingiu-o com uma seta
entre os olhos. |
Quando voltou a si, encontrava-se numa gruta decorada com troncos de árvores e uma pequena fogueira que aquecia dois velhos lobos. À sua beira uma donzela, coberta com peles de corça, acariciava o focinho do lobo ferido. Esta, acreditando que estava perante a sua alma gémea que vinha salvá-la do seu triste fado que durava há sete anos, perguntou-lhe se era ele o seu libertador. |
Inundado por sentimentos de maldade, desconfiou tratar-se de uma armadilha de uma pieira ambiciosa para iludir o coração de um nobre propenso ao maravilhoso. Chamou-lhe impostora e disse-lhe que ela também falaria assim se, em vez dele, ali estivesse um dos seus lacaios. | De repente uma estranha beleza inundou o rosto da jovem num misto de anjo e demónio, de rainha e de selvagem, deixando Ancemondes admiradíssimo. Então, ela explicou que não lhe diria quem era e que o seu fado só seria quebrado pelo amor de um fiel cavaleiro. Ancemondes, vendo que tinha virado as costas à felicidade que até então nenhum mortal tinha sequer sonhado, pediu perdão de joelhos.
|
O que se passou a seguir não se sabe.
|